sábado, 16 de abril de 2011


Edgar Franco deu uma entrevista para o web jornal "Erudito Pelo Não Dito" da UEG - Universidade Estadual de Goiás, nela, além de questões sobre seu trabalho como artista multimídia, ele fala de polêmicos assuntos do mundo acadêmico. 

É muito fácil sentir-se um caipira conservador perto do Edgar Franco. A figura física é incomum, a figura intelectual ainda mais. Roupas escuras, cartola, cabelos longos, barba ao estilo de Abraham Lincoln, vegetariano, líder de uma banda performática gravada por selo internacional, arquiteto de formação, versado em alta-tecnologia, criador de um vasto universo ficcional, cosmopolita, culto e com senso de humor afiado.

Não fosse o reconhecido autor de considerável produção acadêmica, tivesse RG, emprego e endereço fixo, poderia ser confundido com um personagem de Tim Burton. Mas Edgar Franco existe, e muito. É professor da FAV, Faculdade de Artes Visuais e do Programa de Doutorado em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás, e atualmente cursa pós-doutorado no LART – Laboratório de Pesquisa em Arte e Tecnociência, Gama/UnB. Nessa entrevista ele falou sobre seus múltiplos interesses, sua produção artística e acadêmica, e, principalmente, sobre essa nossa humanidade desumana e o pós-humano.

Leia um pouco aqui:

Assisti uma apresentação musical-performática de sua banda, a Posthuman Tantra, numa universidade. As reações foram adversas. Enquanto algumas pessoas aplaudiam em cena aberta, outras se retiraram indignadas com as insinuações sexuais e de violência. Ao que o senhor atribui esse tipo de atitude conservadora por parte de membros da comunidade acadêmica?

Pra responder essa questão resgato o pensamento de um dos maiores artistas contemporâneos, o quadrinhista inglês Alan Moore, que, como eu, se declarou mago: um manipulador de símbolos visando a mudança da percepção de mundo! Moore ressalta que o verdadeiro artista dá às pessoas “o que elas precisam” e não “o que elas desejam”! A arte foi engolida pelo entretenimento no Século XX, e o senso comum passou a considerar o entretenimento vazio produzido pelo mundo da mídia de massa como arte. Veja que até as nulidades que participam de reality shows são consideradas “artistas”. A publicidade, um mundo repleto de “magos negros”, atua no status quo manipulando símbolos simplesmente para induzir ao consumo. A publicidade é limpa, polida, bela, com rostos jovens, famílias bem nutridas, tudo é asséptico, quase hospitalar, nesse mundo idealizado da indução ao consumo. A linguagem visual da publicidade é a linguagem dominante do mundo globalizado, ela dita regras para os outros sistemas imagéticos, ela contamina todos os meios áudio-visuais, então como artista eu me insurjo contra essa assepsia dissimulada, uma pseudo-limpeza que encobre a sujeira da destruição do planeta e das outras espécies em detrimento do lucro de alguns. As pessoas que saíram da sala de espetáculo durante a nossa apresentação me deixam orgulhoso, pois tenho certeza de que meu objetivo artístico está alcançando resultados. Não existe arte verdadeira que não provoque e não incomode! Além disso, as insinuações sexuais de nossa performance não são nem um pouco mais agressivas do que dançarinas praticamente nuas insinuando sexo anal em danças grotescas nas TVs aos domingos, no entanto a embalagem que envolve essas dançarinas é a da assepsia publicitária, então isso é aceito e louvado pelas mentes subjugadas pelo controle mágico das multinacionais. Nossa performance nega essa assepsia e recontextualiza a manipulação simbólica e conceitual desses elementos, no caso da insinuação sexual fazemos uma reflexão sobre o tecnofetichismo emergente. Também temos muito de doce e sutil em nossa narrativa multimidiática, se você abrir sua percepção sem preconceitos poderá perceber isso ao assistir nossa apresentação. O Posthuman Tantra tem se apresentado em eventos acadêmicos em vários locais do país, como no II Seminário Nacional de Pesquisa em Cultura Visual (UFG – Goiânia), no 9º Encontro Internacional de Arte e Tecnologia (Brasília - DF), 10 Dimensões da Arte e Tecnologia (UFPB – João Pessoa) e no 1º Encontro de Quadrinhos da UEG (Anápolis), a proposta tem chamado a atenção do mundo acadêmico por ser inusitada e algo iconoclasta e a recepção geral é sempre essa: amor ou ódio, poucos ficam indiferentes diante da performance. O Posthuman Tantra é para mim um espaço artístico-ritual, nas apresentações assumo de fato o meu papel de “cyberpajé”, manipulando símbolos e sigilos objetivando a modificação da realidade! Sei das dificuldades de nos insurgirmos contra o império das multinacionais e seu conglomerado de “magos negros” (as grandes e “premiadas” agências publicitárias globais), mas de forma quixotesca eu aceito o desafio, pois para mim não existe verdadeira arte senão aquela que busca transformar o mundo. A penetração de minha obra é muito restrita, mas quem sabe através da ressonância morfogenética alguns dos memes presentes em minha arte não sobrevivam e perpetuem-se no seio da cultura.

Em seu livro “HQtrônicas – do Suporte Papel à rede Internet”, o senhor problematiza a questão da leitura em mídias virtuais. Qual sua perspectiva sobre a polêmica questão acerca da sobrevivência ou não do livro tradicional?
Na perspectiva de McLuhan, o visionário comunicólogo canadense, uma mídia não supera a outra ou a substitui, concordo com ele, pois quando o cinema surgiu decretaram o fim do teatro, já a TV seria a morte do cinema e assim por diante, de certa forma muitos suportes midiáticos também não substituem os seus antecessores. O livro, como o conhecemos, tem uma tradição histórica milenar e sua resistência ao tempo é muito grande, é um formato que não depende de um aparelho decodificador ou fonte de energia para alimentá-lo, portanto ainda apresenta muitas vantagens em relação aos formatos digitais. Vamos brincar um pouco: seu navio naufraga e você consegue ir até uma ilha deserta, seu e-book com 3000 livros se molhou e pifou, mas a maré trouxe alguns livros encharcados de outros tripulantes do navio que não sobreviveram, eram 11 livros, eles secaram ao sol e foram sua companhia por um ano até te encontrarem! É uma situação hipotética, utilizo-a para reforçar como o livro ainda é um objeto “robusto” em muitos sentidos. O biólogo e Ph.D. inglês James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, vislumbra um futuro muito obscuro para a humanidade dentro das próximas décadas devido ao aquecimento global induzido pela ação de nossa espécie. Uma das consequências vislumbradas por ele é a de um total colapso energético planetário e diante disso toda a informação digital não poderá ser acessada, e se conseguirmos reverter a situação será pelos livros. No final de seu livro “A Vingança de Gaia” ele chega a sugerir a redação de um manual com todos os princípios básicos da ciência e da tecnologia, um manual que poderia ajudar a humanidade a se reerguer após o colapso. Dito isso, esclareço minha empolgação com as possibilidades dos formatos digitais, pela dinâmica da convergência midiática, pela sinestesia e envolvimento que essas formas híbridas de leitura envolvem. As HQtrônicas – histórias em quadrinhos eletrônicas, neologismo criado por mim, são uma das novas linguagens intermídia emergentes, hibridizam características dos quadrinhos tradicionais em suporte papel com as possibilidades abertas pela hipermídia, tenho investigado esse fenômeno midiático convergente desde a metade da década de 1990.

Leia essa e outras perguntas e resposta na página do Erudito Pelo Não Dito

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4 comentários:

  1. Quero ver um show desse edgar!! parece uma aula de sexo e ultra-violence

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  2. Eu acho esse cara um verdadeiro idiota e lunático.
    Acha que alguém está interessado em viver uma "não-realidade" e ainda por cima pressupoe uma filosofia futurista enigmatica e tola.
    Creio na evolucão humana sim, não em pressuposicoes imbecis produzidas pela mente fértil alienada ao sexo e ilusões pervertidas desse rapaz.
    Se fosse ele continuava desenvolvendo sua arte que por sinal é bem interessante mas deixava essas previsoes do futuro de lado. Pois elas sao tolas e sem fundamento filosofico coletivo. Sera que você só observa o mundo por suas alienacoes pessoais???(Existem muitos que não veem as coisas como vc ve querido). Abraco

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  3. A única coisa que pode ser idiota é alguém viver em uma massa cultural manipulada por uma moda consumista posta pela mídia, publicidade, religiões e acreditar em uma realidade autoral.
    “Quem tem boca fala o que quer”, agora se quiser fazer uma critica construtiva, exigira uma determinada formação e idealização do que vem a se discutir, primeiramente aprender a separar a “provável evolução humana” dos “valores ficcionais” usado para discutir a evolução humana. Assim não ficara dando bobeira na net.
    Quanto à proposta sexual: As insinuações de sexo anal apresentado nos domingos à tarde em programas de TV não é mais e nem menos agressivo, a diferença é que o Posthuman Tantra preocupa em determinar uma censura segundo a idade do espectador.

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  4. nem entendi o que voce quis dizer luiz

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